terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Nasce uma mãe e um filho!!!

Depois de quase 40 semanas, consegui parir o relato do parto do pequeno Nícolas, o Nico, fruto do mais puro amor meu que queima nos corações dos papais Gustavo e Thaiane!!!
Gostaria de relatar toda a minha trajetória, as minhas escolhas, as lutas, os medos, os sorrisos, as lágrimas, a caminhada, a barriga, a vitória e os pensamentos. Pra conseguir isso, vou voltar no tempo e contar como cheguei aqui. Quando escrevo penso em eternizar este momento maravilhoso, e quem sabe tocar alguma alguém e semear idéias.
 
Soy ty bebé, mamá
Estoy dentro de ti
Se está muy bien aquí
Sueño contigo,
Suenõ tus ojos
Mirándome
Como serás y
si me querrás
Soy tu bebé, mamá
Estoy dentro de ti
Se está muy bien aqui
(Rosa Zaragoza)

Tudo começou quando eu tinha meus 14 anos, quando ouvi de um GO amigo da nossa família, que eu jamais teria um parto normal, pois eu sou pequena pra isso. Aceitei sem questionar e levei isso como uma verdade, até o estágio em obstetrícia na faculdade. 
 Fui fazer estágio em uma maternidade que atende gravidez de baixo e médio risco, que tem selo de hospital Amigo da Crianças, taxas mais elevadas de PN, alojamento conjunto, e incentivo a amamentação. Assisti ao primeiro PN e ao contrário das minhas amigas, que saíam da sala chorando de emoção, eu saí da sala chorando de terror, quanta agressividade, episiotomia, Kristeler, puxo induzido, "maezinha"não grita não, força de cocô senão o nenê não nasce, pernas amarradas, posição em litotomia.   Pensei comigo: ainda bem que não posso ter PN. Depois fui assistir a uma cesárea, saí mais horrorizada ainda e pensei: não posso ter filhos. 
O tempo passou, e eu não acreditava que os bebês vinham ao mundo de forma tão agressiva, comecei a procura. A primeira vez que li o termo Parto Domiciliar eu quase grudei no teto, não entendia como em pleno século XXI as mulheres decidiam ter seus filhos em casa, longe da tecnologia hospitalar, e se acontecesse uma hemorragia, e se, e se... Mas me abri, e comecei a estudar, e questionar, e conversar, e o monstro começou a sorrir pra mim, e o jardim começou a dar flores.
O vento soprou leituras, pessoas, relatos, aos poucos fui construindo, destruindo, conhecendo pessoas, percebendo o mundo, mudando opiniões, ficando mais crítica, mudando a minha vida!! E percebi que estamos muitos atrasados nos assunto nascimento. E decidi, meu filho nasceria em casa. Isso uns 3 anos antes de eu engravidar do Nico.
 Acredito que por medo disso tudo não ser real, entrei em contato com a doula Helena Junqueira, que respondeu minhas perguntas, com a Jamile Bussadori (parteira) que também me respondeu atenciosamente, mas a gravidez veio um ano depois.
Quando me descobri grávida, entrei em contato com a Jamile, marquei encontro no Despertar do Parto,  quando eu entrei por aquelas portas, eu me senti uma mulher poderosa, em busca do meu protagonismo, da vivência por inteiro do nascimento do filho e do meu como mãe.
A gravidez foi evoluindo, enjôos, felicidade absurda, tudo tranquilo. Fazia o pré-natal com uma médica nada humanizada, mas ainda não era um problema, até que no dia 01/01/2011 as cólicas renais chegaram sorrateiramente na madrugada do primeiro dia do ano, com ela as contrações chegaram também, e o medo aflorou. Eu estava com 19 semanas de gestação, eu já amava o ser que se movimentava dentro de mim, eu sonhava com seu toque, com suas mãos, eu já havia me tornado mãe, já era a minha vida!!
Mudei de médico quando vi que isso poderia ser usado contra mim (ou o parto), procurei um médico que tem as mais altas taxas de PN da cidade, é bastante calmo, acredita no parto normal, é muito educado, discreto, e dá pra negociar algumas intervenções, e espera o momento do parto, o que aqui em Ribeirão já é um grande avanço, diante das taxas de mais de 90% de cesareanas no setor privado.
Segui o pré-natal com ele até o final, por conta da questão renal tive que afastar do trabalho, o que pra mim foi extremamente difícil, pois eu amava trabalhar, fazia bem pra minha cabeça, eu adorava o pessoal do trabalho e não queria ficar em casa. mas tinha medo, muito medo de perder o amor que desabrochava dentro de mim, ainda mais por não saber a causa das cólicas renais. Seria hidronefrose congênita, cáculos renais, ambos? (depois descobri que eram ambos).
Comecei a tomar muitos medicamentos, por conta das muitas contrações, cheguei até a fazer ciclo de corticóide, mas no fundo eu sentia que aquilo não era o correto. Quando cheguei na 28 semana de gestação eu comecei a abandonar os medicamentos, aos poucos, eu sentia que não teria o protagonismo do nascimento, entregando meu corpo na gestação. O problema renal era real, mas as contrações não me pareciam patológicas, as contrações eram oriundas do medo, da insegurança, não do meu corpo, decidi confiar em mim, confiar no meu filho que era forte, e confiar que seguiriamos adiante, e que venceriamos essa batalha.  Claro que muto atenta aos sinais do meu corpo, eu fui deixando os medicamentos. E surpresa: as contrações desapareceram. O que eu precisava era de segurança, de carinho, de palavras amigas, de incentivo, mas isso em 15 minutos de consulta ninguém consegue dar, é mais fácil receitar remédios.
E desse amor, se fez a vida!
Com 37 semanas, eu consegui me sentir realmente grávida, Nico poderia vir, nenhuma gota de medo percorria meu corpo. E as semanas se passaram, quando completei 40 semanas, o tampão começou a sair, mas nada mudou. Viajei, fui num casamento, sambei com todo mundo olhando a "bomba relógio" prestes a explodir na pista de dança (afinal, quase ninguém chega as 41 semanas hoje em dia), caminhei, conversei com o meu lindo, até que na terça-feira, dia em que completei 41 semanas, levantei com um humor ruim, tomei meu café e fui pra Yoga, com a doula querida Eleonora Moraes (Léo), comentei que eu sentia uma dorzinha, a cada 8 minutos, mas nada diferente do que eu sentia desde a 19 semana, fiz a Yoga, fui pra casa da sogra, passei ao supermercado pra comprar algumas coisinhas e fui pra casa. Cheguei exausta e queria tomar um banho e dormir, mas no chuveiro a primeira contração chegou, não tinha duvidas, agora era parto, Nico iria nascer.
Liguei pra parteira, doula, marido, dizendo que o TP estava no início, mas que estava tudo bem, que eu iria tirar fotos ainda (quem me dera). Desliguei o telefone, outra contração, liguei pra todo mundo novamente dizendo que a coisa tá feia. rsrsrs
Gustavo e Léo chegaram uns 30 min depois, eu já estava apoiada em uma pilha de travesseiros, conseguia conversar nos intervalos, mas elas já vinham doloridas. Mas a alegria de saber que era o dia, o dia do nascimento do meu ogrinho, me dava forças pra não ter medo do que estava por vir, me dava coragem e força, e uma sensação incrível de sentir o corpo funcionar, de me sentir mulher.
Sentada na cama, a bolsa rompeu, lembro-me de falar pra Léo: agora o bicho vai pegar né? ela me respondeu com um sorriso. Fomos pra sala, sentei na bola, e contrações fortes a cada 2 min, Léo me orientou a ir pro chuveiro, aí uma contração engatou na outra, não dava intervalos, eu pedi pra ir pra cama, pra pilha de travesseiros, e lá fiquei, até a Jamile chegar, preparar a banheira, armar o circo rsrsrs
Não me lembro da Jamile chegando, parece que ela sempre esteve ali, devido a sua discreta forma de trabalhar, ela era invisivel aos olhos, mas eu a sentia ali.
Pedi várias vezes pra ir para a banheira, perguntava pra Léo: Se está no começo porque dói tanto? E ela me respondeu: não está no começo querida, você está na transição. Tive medo de não estar, daí jamile veio realizar o único exame de toque pra saber se eu poderia entrar na banheira, tive medo de ouvir um 4, pois eu estava com MUITA dor, mas ouvi um 8, sorri, até bati palma, meu corpo funciona!!!!
Contrações intensas!!!
Fui feliz pra banheira, e de lá não saí mais. as contrações começaram a ficar muito mais intensas, eu já não raciocinava, e meus olhos ficavam fechados a maior parte do tempo. Uma mão sempre estava ali, segurando a minha, bem forte, era o Gu, que me olhava nos olhos, como se quisesse entrar dentro de mim e dividir a dor comigo, mesmo com os olhos fechados eu sentia seu olhar, e sempre que eu abria meus olhos encontrava os dele, e me sentia forte,  recarregava minhas forças pra continuar. Seu toque, sua presença aliviavam as dores, me sentia segura, quando ele saía de perto de mim a dor aumentava, faltava algo, faltava meu porto-seguro.
Camila (parteira) chegou um tempo depois, não sei dizer quando, pois eu só me dei conta de sua presença após o nascimento, tamanha sua delicadeza e seu respeito pelo momento. Temos várias fotos juntas, algumas abraçadas, tem fotos dela massageando minhas costas, me oferecendo alimento, mas ela estava invisível aos meus olhos!!!
Um dos meus maiores medos, e acredito que o de todo mundo, era eu não conseguir me entregar, e ficar querendo controlar tudo. Mas a gravidez existe pra isso, na gravidez, aprendi a me libertar, a confiar em mim, e a perder o controle. Por isso as lágrimas, as dores, as cólicas tiveram seus significados, não eram me fazer sofrer, ou me prejudicar, mas me amadurecer, me deixar mais forte, me preparar, quebrar as barreiras que poderiam fazer com que o parto não acontecesse como o esperado, e também me preparar para a vida!
No meio de uma contração imensamente intensa, que por um segundo eu pensei que não daria conta, veio a vontade de fazer força, e que alivio era fazer força. Dentro mim habita uma fera, adormecida, que se colocou em atividade para trazer meu filho. Estava muito cansada, e conversei pela última vez com o Nico dentro de mim, disse a ele que nossa jornada estava no final, que ele poderia vir, que poderiamos juntos terminar essa jornada. Venha filho, pros braços da mamãe.
Estava na banheira, com o Gu do meu lado também dentro da banheira, sentada de lado, e a força vinha muito forte, ninguém dizia nada, o ambiente estava em penumbra, Gustavo segurava minha mão e me acariciava, a dor havia ido embora.  Coloquei a mão e uns 4 cm ainda dentro de mim, senti sua cabeça e disse: Meu filhinho está aqui!!!
Com as forças eu senti uma queimação no períneo, e vocalizava muito, gritava, urrava, queimava muito, tive a sensação de que iria abrir ao meio, mas Gustavo e eu acariciavamos seus cabelos que já se mostrava, Léo, Camila e Jamile, vocalizavam junto, e por um instante ouvi mentalmente:
"siente que el momento llega
siente tus huesos son fuertes
siente, estamos ayudando
Nasceu uma família
lo divino esta conitgo
siente, el ninõ está en la puerta
vivirá para abrazarte
tienes lo que necesitas
madre de todos nosotros"
(Rosa Zaragoza)

Em meio a tanta queimação ouvi a Léo dizer: nasceu a cabeça linda, põe a mão nele. Eu coloquei a mão em sua cabeça, abri um sorriso enorme e disse: Nossa!!!! Foi uma das sensações mais maravilhosas, e o Gu compartilha isso comigo. Acariciar suas orelhinhas, seu narizinho, sua pequena cabeça, com seu corpo ainda dentro de mim. Estava com uma circular de cordão, desfeita pela Camila. Olhei pra cima, sorri, e nasceu o corpo. Gu o pegou na água e o entregou em meus braços. Ainda me lembro da sensação magnífica que foi sentir seu corpo escorregadio junto ao meu. Meu mundo ali caiu, e nasceu outro. Maravilhoso, magnífico, íntimo, sagrado, não há uma palavra a altura de um momento tão sublime como esse. O sentimento é de entrega, seu coração se abre, é muito amor.
Nico nasceu de olhos abertos, um pouco molinho, mas logo após ser aquecido já se mostrou muito esperto, querendo mamá. Nasceu no dia 24/05/2011, às 21:59h, após 8h de trabalho de parto transformador, pesando 2820g, 48cm, com 41 semanas de gestação.
Saí da banheira e deitei no sofá, com meu filho nos braços, ficamos alí nós três, nos conhecendo, namorando, como é lindo, como esse amor é intenso, nós conseguimos. 
Ele me olhava nos olhos, e eu não acreditava que era real, meu sonho se materializou. Em meu colo ele me lambia, procurando o seio, e mamou alguns minutos após o parto. 
Nico nasceu sem agressividade, veio ao mundo com amor e respeito. Não foi feito nenhum procedimento desnecessário, recebeu vitamina K oral, não recebeu colírio de Nitrato de Prata em seus olhos sensíveis, não foi separado de mim em nenhum instante. Pude cheirá-lo, acariciá-lo, beijá-lo, ninguém tirou isso de mim!!!
Jantando após o nascimento. Nico dormindo no colo do pai.
Após esse momento nosso, Jamile suturou uma laceração que tive no períneo, tomei um banho e me deitei, a Léo preparou uma macarronada e fizemos um brinde ao nascimento do pequeno Nícolas, ao nascimento de uma família.
Simples assim, um nascimento celebrado, uma vida chegou respeitada, já se deitou na cama de seus pais, e já fazia parte de nosso dia-a-dia, de nossa vida. 
Após esse dia maravilhoso, me sinto forte, poderosa, agora eu sinto que posso fazer tudo, que eu tenho força pra realizar todos os meus sonhos, que eu tenho força pra ser uma pessoa melhor. 
Olho para o meu filho todos os dias e sinto orgulho de nós, pois juntos conseguimos tecer nossa história.

Agradeço de coração ao meu grande marido, que me acompanhou nessa jornada, que me deu segurança, me ofereceu seu ombro, e sonhou comigo, e hoje é o melhor pai do mundo.
A equipe maravilhosa que me acompanhou nesse processo, Jamile, Eleonora, Camila. Se vocês não tivessem coragem e força de mulher, essa história seria diferente.
A lista partonosso que me fez refletir e ter coragem de entrar nessa estrada. 
Às bravas mulheres que relataram seus partos, que me permitiram admirá-las e construir a minha história, acreditando nessa força de mulher.
A minha família que me ajudou nessa caminhada.
E aos amigos, que ficaram com os ombros cheios de lágrimas, algumas de alegria e outras de tristeza.
Ao meu amado filho Nico, que iniciou sua vida, transformando a minha!!!!
Colocando a roupa!!!
Medindo o pequeno
Dormindo juntinhos, recarregando as baterias

E nasce a árvore e o fruto!!!

Depois de quase 40 semanas, consegui parir o relato do parto do pequeno Nícolas, o Nico, fruto do mais puro amor meu que queima nos corações dos papais Gustavo e Thaiane!!!
Gostaria de relatar toda a minha trajetória, as minhas escolhas, as lutas, os medos, os sorrisos, as lágrimas, a caminhada, a barriga, a vitória e os pensamentos. Pra conseguir isso, vou voltar no tempo e contar como cheguei aqui. Quando escrevo penso em eternizar este momento maravilhoso, e quem sabe tocar alguma alguém e semear idéias.

Soy ty bebé, mamá
Estoy dentro de ti
Se está muy bien aquí
Sueño contigo,
Suenõ tus ojos
Mirándome
Como serás y
si me querrás
Soy tu bebé, mamá

Estoy dentro de ti
Se está muy bien aquí
(Rosa Zaragoza)




Tudo começou quando eu tinha meus 14 anos, quando ouvi de um GO amigo da nossa família, que eu jamais teria um parto normal, pois eu sou pequena pra isso. Aceitei sem questionar e levei isso como uma verdade, até o estágio em obstetrícia na faculdade.
Fui fazer estágio em uma maternidade que atende gravidez de baixo e médio risco, que tem selo de hospital Amigo da Crianças, taxas mais elevadas de PN, alojamento conjunto, e incentivo a amamentação. Assisti ao primeiro PN e ao contrário das minhas amigas, que saíam da sala chorando de emoção, eu saí da sala chorando de terror, quanta agressividade, episiotomia, Kristeler, puxo induzido, "maezinha"não grita não, força de cocô senão o nenê não nasce, pernas amarradas, posição em litotomia.   Pensei comigo: ainda bem que não posso ter PN. Depois fui assistir a uma cesárea, saí mais horrorizada ainda e pensei: não posso ter filhos.
O tempo passou, e eu não acreditava que os bebês vinham ao mundo de forma tão agressiva, comecei a procura. A primeira vez que li o termo Parto Domiciliar eu quase grudei no teto, não entendia como em pleno século XXI as mulheres decidiam ter seus filhos em casa, longe da tecnologia hospitalar, e se acontecesse uma hemorragia, e se, e se... Mas me abri, e comecei a estudar, e questionar, e conversar, e o monstro começou a sorrir pra mim, e o jardim começou a dar flores.
O vento soprou leituras, pessoas, relatos, aos poucos fui construindo, destruindo, conhecendo pessoas, percebendo o mundo, mudando opiniões, ficando mais crítica, mudando a minha vida!! E decidi, meu filho nasceria em casa. Isso uns 3 anos antes de eu engravidar do Nico.
 Acredito que por medo disso tudo não ser real, entrei em contato com a doula Helena Junqueira, que respondeu minhas perguntas, com a Jamile Bussadori (parteira) que também me respondeu atenciosamente, mas a gravidez veio um ano depois.
Quando me descobri grávida, entrei em contato com a Jamile, marquei encontro no Despertar do Parto,  quando eu entrei por aquelas portas, eu me senti uma mulher poderosa, em busca do meu protagonismo, da vivência por inteiro do nascimento do filho e do meu como mãe.
A gravidez foi evoluindo, enjôos, felicidade absurda, tudo tranquilo. Fazia o pré-natal com uma médica nada humanizada, mas ainda não era um problema, até que no dia 01/01/2011 as cólicas renais chegaram sorrateiramente na madrugada do primeiro dia do ano, com ela as contrações chegaram também, e o medo aflorou. Eu estava com 19 semanas de gestação, eu já amava o ser que se movimentava dentro de mim, eu sonhava com seu toque, com suas mãos, eu já havia me tornado mãe, já era a minha vida!!
Mudei de médico quando vi que isso poderia ser usado contra mim (ou o parto), procurei um médico que tem as mais altas taxas de PN da cidade, é bastante calmo, e dá pra negociar algumas intervenções, e espera o momento do parto, o que aqui em Ribeirão já é um grande avanço, diante das taxas de mais de 90% de cesareanas no setor privado.
Segui o pré-natal com ele até o final, por conta da questão renal tive que afastar do trabalho, o que pra mim foi extremamente difícil, pois eu amava trabalhar, fazia bem pra minha cabeça, eu adorava o pessoal do trabalho e não queria ficar em casa. mas tinha medo, muito medo de perder o amor que desabrochava dentro de mim, ainda mais por não saber a causa das cólicas renais. Seria hidronefrose congênita, cáculos renais, ambos? (depois descobri que eram ambos).
Comecei a tomar muitos medicamentos, por conta das muitas contrações, cheguei até a fazer ciclo de corticóide, mas no fundo eu sentia que aquilo não era o correto. Quando cheguei na 28 semana de gestação eu comecei a abandonar os medicamentos, aos poucos, eu sentia que não teria o protagonismo do nascimento, entregando meu corpo na gestação. O problema renal era real, mas as contrações não me pareciam patológicas, as contrações eram oriundas do medo, da insegurança, não do meu corpo, decidi confiar em mim, confiar no meu filho que era forte, e confiar que seguiriamos adiante, e que venceriamos essa batalha.  Claro que muto atenta aos sinais do meu corpo, eu fui deixando os medicamentos. E surpresa: as contrações desapareceram. O que eu precisava era de segurança, de carinho, de palavras amigas, de incentivo, mas isso em 15 minutos de consulta ninguém consegue dar, é mais fácil receitar remédios.
Com 37 semanas, eu consegui me sentir realmente grávida, Nico poderia vir, nenhuma gota de medo percorria meu corpo. E as semanas se passaram, quando completei 40 semanas, o tampão começou a sair, mas nada mudou. Viajei, fui num casamento, sambei com todo mundo olhando a bomba relógio prestes a explodir na pista de dança, caminhei, conversei com o meu lindo, até que na terça-feira, dia em que completei 41 semanas, levantei com um humor ruim, tomei meu café e fui pra Yoga, com a doula querida Eleonora Moraes (Léo), comentei que eu sentia uma dorzinha, a cada 8 minutos, mas nada diferente do que eu sentia desde a 19 semana, fiz a Yoga, fui pra casa da sogra, passei ao supermercado pra comprar algumas coisinhas e fui pra casa. Cheguei exausta e queria tomar um banho e dormir, mas no chuveiro a primeira contração chegou, não tinha duvidas, agora era parto, Nico iria nascer.
Liguei pra parteira, doula, marido, dizendo que o TP estava no início, mas que estava tudo bem, que eu iria tirar fotos ainda (quem me dera). Desliguei o telefone, outra contração, liguei pra todo mundo novamente dizendo que a coisa tá feia. rsrsrs
Gustavo e Léo chegaram uns 30 min depois, eu já estava apoiada em uma pilha de travesseiros, conseguia conversar nos intervalos, mas elas já vinham doloridas. Mas a alegria de saber que era o dia, o dia do nascimento do meu ogrinho, me dava forças pra não ter medo do que estava por vir, me dava coragem e força, e uma sensação incrível de sentir o corpo funcionar, de me sentir mulher.
Sentada na cama, a bolsa rompeu, lembro-me de falar pra Léo: agora o bicho vai pegar né? ela me respondeu com um sorriso. Fomos pra sala, sentei na bola, e contrações fortes a cada 2 min, Léo me orientou a ir pro chuveiro, aí uma contração engatou na outra, não dava intervalos, eu pedi pra ir pra cama, pra pilha de travesseiros, e lá fiquei, até a Jamile chegar, preparar a banheira, armar o circo rsrsrs
Não me lembro da Jamile chegando, parece que ela sempre esteve ali, devido a sua discreta forma de trabalhar, ela era invisivel aos olhos, mas eu a sentia ali.
Pedi várias vezes pra ir para a banheira, perguntava pra Léo: Se está no começo porque dói tanto? E ela me respondeu: não está no começo querido, você está na transição. Tive medo de não estar, daí jamile veio realizar o único exame de toque pra saber se eu poderia entrar na banheira, tive medo de ouvir um 4, pois eu estava com MUITA dor, mas ouvi um 8, sorri, até bati palma, meu corpo funciona!!!!
Fui feliz pra banheira, e de lá não saí mais. as contrações começaram a ficar muito mais intensas, eu já não raciocinava, e meus olhos ficavam fechados a maior parte do tempo. Uma mão sempre estava ali, segurando a minha, bem forte, era o Gu, que me olhava nos olhos, como se quisesse entrar dentro de mim e dividir a dor comigo, mesmo com os olhos fechados eu sentia seu olhar, e sempre que eu abria meus olhos encontrava os dele, e me sentia forte,  recarregava minhas forças pra continuar. Seu toque, sua presença aliviavam as dores, me sentia segura, quando ele saía de perto de mim a dor aumentava, faltava algo, faltava meu porto-seguro.
Camila (parteira) chegou um tempo depois, não sei dizer quando, pois eu só me dei conta de sua presença após o nascimento, tamanha sua delicadeza e seu respeito pelo momento. Temos várias fotos juntas, algumas abraçadas, tem fotos dela massageando minhas costas, me oferecendo alimento, mas ela estava invisível aos meus olhos!!!
Um dos meus maiores medos, e acredito que o de todo mundo, era eu não conseguir me entregar, e ficar querendo controlar tudo. Mas a gravidez existe pra isso, na gravidez, aprendi a me libertar, a confiar em mim, e a perder o controle. Por isso as lágrimas, as dores, as cólicas tiveram seus significados, não eram me fazer sofrer, ou me prejudicar, mas me amadurecer, me deixar mais forte, me preparar, quebrar as barreiras que poderiam fazer com que o parto não acontecesse como o esperado, e também me preparar para a vida!
No meio de uma contração imensamente intensa, que por um segundo eu pensei que não daria conta, veio a vontade de fazer força, e que alivio era fazer força. Dentro mim habita uma fera, adormecida, que se colocou em atividade para trazer meu filho. Estava muito cansada, e conversei pela última vez com o Nico dentro de mim, disse a ele que nossa jornada estava no final, que ele poderia vir, que poderiamos juntos terminar essa jornada. Venha filho, pros braços da mamãe.
Estava na banheira, com o Gu do meu lado também dentro da banheira, sentada de lado, e a força vinha muito forte, ninguém dizia nada, o ambiente estava em penumbra, Gustavo segurava minha mão e me acariciava, a dor havia ido embora.  Coloquei a mão e uns 4 cm ainda dentro de mim, senti sua cabeça e disse: Meu filhinho está aqui!!!
Com as forças eu senti uma queimação no períneo, e vocalizava muito, gritava, urrava, queimava muito, tive a sensação de que iria abrir ao meio, mas Gustavo e eu acariciavamos seus cabelos que já se mostrava, Léo, Camila e Jamile, vocalizavam junto, e por um instante ouvi mentalmente:
"siente que el momento llega
siente tus huesos son fuertes
siente, estamos ayudando
lo divino esta conitgo
siente, el ninõ está en la puerta
vivrá para abrazarte
tienes lo que necesitas
madre de todos nosotros"

Em meio a tanta queimação ouvi a Léo dizer: nasceu a cabeça linda, põe a mão nele. Eu coloquei a mão em sua cabeça, abri um sorriso enorme e disse: Nossa!!!! Foi uma das sensações mais maravilhosas, e o Gu compartilha isso comigo. Acariciar suas orelhinhas, seu narizinho, sua pequena cabeça, com seu corpo ainda dentro de mim. Olhei pra cima, sorri, e nasceu o corpo. Gu o pegou na água e o entregou em meus braços. Ainda me lembro da sensação magnífica que foi sentir seu corpo escorregadio junto ao meu. Meu mundo ali caiu, e nasceu outro.
Nico nasceu de olhos abertos, um pouco molinho, mas logo após ser aquecido já se mostrou muito esperto, querendo mamá.
Saí da banheira e deitei no sofá, com meu filho nos braços, ficamos alí nós três, nos conhecendo, namorando, como é lindo, como esse amor é intenso, nós conseguimos.
Ele me olhava nos olhos, e eu não acreditava que era real, meu sonho se materializou. Em meu colo ele me lambia, procurando o seio, e mamou alguns minutos após o parto.
Nico nasceu sem agressividade, veio ao mundo com amor e respeito. Não foi feito nenhum procedimento desnecessário, recebeu vitamina K oral, não recebeu colírio de Nitrato de Prata em seus olhos sensíveis, não foi separado de mim em nenhum instante. Pude cheirá-lo, acariciá-lo, beijá-lo, ninguém tirou isso de mim!!!
Após esse momento nosso, Jamile suturou uma laceração que tive no períneo, tomei um