domingo, 26 de agosto de 2012

A mãe que eu queria ser!

  


  Bom, hoje vou tocar num assunto, digamos, doloroso, muito bem aceito por todas as mães, que é o da mãe que queria ser contra a mãe que eu sou.
    Eu sou a rapinha do arroz, a caçulinha da casa que se casou com um caçula e hoje somos pais. Não vi minha mãe cuidar de outros irmãos, meus primos eram da mesma idade que eu, os mais novos tive pouco contato, e os amigos na grande maioria eram mais velhos. Cresci assim sem contato com bebê, o pouco que sabia do mundo da maternidade era devido às conversas de calçada, aos ditados das avós, e eu absorvia tudo aquilo, sem pensar, afinal não era mãe, não havia motivos pra ficar perdendo tempo pensando em algo que pra mim não serviria pra nada, nem de boneca eu gostava!
   Quando cheguei na faculdade, passando pela disciplina de pediatria é que meus conceitos começaram lentamente a mudar. Ainda faltava muuuuuuiiito chão pra me tornar o que sou hoje, mas algumas portas se abriram, e mesmo que eu na época nem quisesse passar debaixo delas, ao menos eu sabia que havia alguns outros meios de se criar nossos filhos!
   Mas eu virei tia, várias vezes tia, e eu me vi questionando muita coisa, muitas práticas, aprendendo um monte e sentindo uma felicidade gigante por ter crianças na família, a inocência, as palavras sem maldade, os sorrisos.
   Quando me vi grávida é que eu realmente senti a necessidade de buscar informação, eu queria fazer diferente, algumas coisas pra mim não se encaixavam.
   Comecei a me questionar, procurar informações, grupos de mães, procurei por grupos de mães que se encaixavam naquilo que eu acreditava, passei por mudanças, e no final da gravidez depois de ter livro mil livros, ter um discurso afiado sobre maternidade, e... o Nico nasceu, e me mostrou que eu sabia os caminhos, mas eu teria que trilhar esses caminhos, e a mãe que eu queria ser, aquela figura linda, penteada, perfumada, borbulhando paciência, transbordando felicidade, se tornou em uma mãe descabelada, comendo mal, com o seios machucados, com olheira, com momentos de extrema alegria e outros com um mau humor horrendo, e agora??? Cadê a mãe que eu quero ser???
   Foi aí que eu percebi que todas as teorias eram um norte que eu deveria adaptar a mim e ao meu filho, mas o caminho, ah o caminho, esse era totalmente meu, totalmente nosso, ninguém poderia escrever sobre ele, traduzi-lo, delimita-lo, ele pertencia a nós, ele pertencia a mim.
  De todas as promessas e crenças, eu acreditava que a maternidade passaria por mim sem um nó sequer, e quando me vi era um embaraço só, desespero total, muita cobrança. Não estava preparada para lidar com um bebê high need, com uma necessidade de sucção imensa, que dormia por no máximo 30 min durante o dia, e que passava a noite toda a me solicitar. O bebê dos meus planos era amável, dormia horas e horas, mamava bem, e cheirava loção para bebês. O que eu estava fazendo de errado?
  Será que eu o estava embalando errado? Será que eu oferecia demais o seio? Será que eu devia coloca-lo pra dormir sozinho no berço? Será? Será? Será?
  Foi aí que eu abandonei a mãe que eu queria ser, e passei a ser a mãe que sou. E além de tudo, passei a aceitar o MEU FILHO, passei a compreender suas necessidades, como necessidades de uma criança não como a façanha de um adulto. Passei a ouvir meu coração, a seguir minha intuição, meu instinto de mãe e as coisas começaram mudar, ao menos eu mudei.
  O monstro desconhecido passou a ser conhecido, e foi diminuíndo até se transformar em um bebê, um lindo bebê de olhos verdes, e atrás desses olhos verdes, ali, escondidinha eu vi a mãe que eu queria ser. Me lembro de estar sentada na cadeira, tentando faze-lo adormecer há mais de 2 horas, sem cobrança, sem estar irritada, estava eu ali cantando, contando seus dedinhos, e ele me olhou nos olhos e eu vi, a mãe, com olheiras, acima do peso, descabelada, mas borbulhando paciência e trasbordando alegria. As noites de sono já não eram mais as mesmas, eram noites de uma mulher que havia trocado horas de sono, por horas embalando um pequeno ser, a quem o mundo era tão desconhecido e estranho. O corpo já não era mais o mesmo, mas era o corpo de uma mulher que havia gerado vida em seu ventre, e de uma outra mulher que estava comendo feito uma louca. O cansaço era de uma mulher recém-parida a quem lhe foi dado a mais sagrada das missões, criar um adulto.
  Aí eu tive certeza de que eu estava no caminhos certo, eu estava no meu caminho. Nico continua mamando muito, passa horas no peito, mesmo estando hoje com 15 meses. Muita coisa mudou, outras não. Algumas estão mais difíceis, outras muito mais fáceis. Algumas não existem mais, outras estão começando a existir. E eu acompanho tudo, vejo tudo, fico triste e alegre pelo que já foi, fico alegre pelo que está sendo e pelas coisas que ainda virão.
  Ser mãe é viver sem receita, ser mãe é ser surpresa. É importante ter um norte para não se perder, mas é importante trilhar o próprio caminho! As palavras de um livro estão ali para nos fazer pensar, as vezes nos fazer rir e outras para nos fazer chorar, mas lá elas não valem nada, pois quem tem quem colocar aquilo na vida somos nós. São as escolhas e renúncias, que temos que fazer o tempo todo! 
  E com filho tudo passa, e passa rápido, e depois fica aquele gostinho de saudade!! Então mulherada, aproveitem, pois a hora é agora!!!!
  Não tenha medo de embalar seu filho, de dormir com ele, cantar horas e horas pra ele, de beijá-lo, de ficar juntinho em contato pele-a-pele, de se entregar, amamentá-lo em livre demanda e amá-lo sem limites, pois como diz o Dr Carlos Gonzales em seu maravilhoso livro Un regalo para toda vida: 
 "Não existe nenhuma doença mental causada por um excesso de colo, carinho, de afagos... Não há ninguém na prisão, ou no hospício, porque recebeu colo demais, ou porque cantaram canções de ninar demais para ele, ou porque os pais deixaram que dormisse com eles. Por outro lado, há, sim, pessoas na prisão, ou no hospício porque tiveram pais, ou porque foram maltratados, abandonados ou desprezados pelos pais. E, contudo, a prevenção dessa doença mental imaginária, o estrago infantil crônico, parece ser a maior preocupação de nossa sociedade".
Abraços!!!!
Thaiane

3 comentários:

  1. Você é uma linda!
    Me vejo em MUUUUUITA coisa que você escreveu.
    Obrigada por compartilhar :)
    Um grande beijo!!!

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  2. Thaiane, o que vc escreveu é de uma sensibilidade incrível!
    Conheço muitas mulheres que devoram os livros sobre bebês atrás de receitas e fórmulas mirabolantes. E ficam tão mergulhadas em busca da perfeição livresca que perdem o momento mais mágico de todos, que é o desabrochar do "eu" mãe, o olhar sincero e indefeso de um bebê que está estebelendo elo de confiança com um mundo tão diferente.
    Devemos aceitar o bebê que temos e amá-los incondicionalmente!

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  3. Thay, minha querida! Quanto orgulho de você: a enfermeira, a amiga, mas em especial, a mãezona que vc se tornou!
    Ainda não sou mãe, nem tenho maturidade suficiente pra saber se um dia poderei ser. Apenas uma coisa me é certa: em quem me espelhar!
    Parabéns por essa dedicação e por esse filho lindo, amado e independente que vc está despertando para o mundo. E a essa família linda, toda a felicidade do mundo!
    Amo vcs!
    Um super beijo.

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