quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A mulher, o bebê, a amamentação e a sonda!

Levei 18 meses pra conseguir escrever sobre a minha amamentação! Muitas pessoas viviam pedindo pra eu fazer o relato, pois poderia ser útil para outras mulheres, e eu tentei várias vezes, nunca consegui. Sempre a sensação de algo parado na garganta e eu abandonava a escrita logo no início, mas dessa vez vai sair.

Sou enfermeira, já ajudei muitos bebês a mamar no peito, e eu achava que sabia tudo sobre o assunto, e que eu iria abafar quando fosse minha vez. Engravidei e me preocupei exaustivamente com o parto, me preparei para ele, sonhava com ele, porém sempre deixei a amamentação de lado, como se a montanha mais alta da minha vida fosse o PARTO. Grande engano, atrás daquele morro (parto) havia a montanha (pós parto).
Nico nasceu e veio para o peito imediatamente, e pegou de primeira. A sensação ali foi de uma explosão imensa, e de vitória, me abafei: "meu filho acabou de nascer e mama feito um bezerro".
No segundo dia de vida, chamei uma consultora em amamentação, pois o Nico berrava, e após 1 hora de ordenha não conseguimos sequer ver um brilho de colostro, nada, nada. Era como pegar o peito de uma mulher q nunca amamentou na vida e tentar ordenhar! Tentei não me preocupar. E no dia seguinte, vi uma gotinha branca de leite escorrer, ufa, funciona, eu pensei, e desencanei, apesar de nunca ter sentido o peito cheio. Sabe aquele endurecimento dos seios, sensação de peso, nunca tive.
Os dias foram passando, e eu calmamente lidava com um bebê que solicitava o peito a todo instante, não tinha intervalo superior a 30 minutos, ele não dormia durante o dia, ele ficava no peito o tempo todo. Mas como eu sempre ouvia que bebê novinho ficava no peito o tempo todo eu estava tranquila. E com 1 mês Nico estava pesando somente 80g a mais do que o nascimento. Nasceu com 2820g e estava com 2900g, com 30 dias de vida. E foi nesse dia que meu mundo caiu!
Entrei na consulta com a pediatra, e assim que tirei a roupa dele ela soltou:"- Minha nossa esse menino está muito magro". O pesou, olhou pra mim e disse:"- Mãe, seu filho está desnutrido, pode dar mamadeira que vc não tem leite pra ele". Receitou a fórmula artificial (FA) e se despediu de mim. A consulta durou 5 minutos, mas magoou meu coração por toda eternidade! Me senti um lixo, senti que meu filho pra ela era um lixo, que não precisava do meu leite. Que qualquer vaca ( o animal mesmo) o alimentaria melhor que eu. Meu leite era lixo. Pouco lixo.
Claro, troquei de pediatra e nunca mais voltei lá!
Cheguei na nova pediatra, desesperada, chorosa, e ela o avaliou e disse que o Nico estava magro, não desnutrido, e que não era pra eu dar FA pra ele, que investiriamos na amamentação, e que ela queria ver-nos 2 vezes por semana! E aí começou a grande luta!
Todas as vezes antes de amamentar eu tirava um pouco de leite manualmente, depois o colocava pra mamar, e depois ordenha com a bomba elétrica, isso em TODAS as mamadas (oh God). O volume que eu ordenhava não passava de 5ml das duas mamas, porém eu sabia q isso no início era normal.
Procurei o banco de leite várias vezes, e elas me olhavam com piedade e pediam para que eu desse  a FA assim que eu chegasse em casa, pois meu leite era insuficiente.
E aqui vai minha sugestao para o Banco de Leite, acho que as mulheres deveriam ficar separadas na hora da ordenha, eu me sentia muito mal quando do meu lado estava uma mulher com um recem nascido ordenhando 150 ml, enquanto eu com um bebê de mais de 30 dias ordenhando 5ml das duas mamas. Era horrível! Mesmo vc sabendo que não é ideal comparar, mas sabe aquele sentimento lá no fundo que todo mundo tem, então, eu tinha, e eu me sentia incompetente e frustrada!
Fiz tudo o que eu sempre falei que não havia necessidade de ser feito (desespero?) tomei plasil, tintura de algodoeiro, chá da mamãe, litros e litros de água, canjica (engordei horrores), e claro não consegui fazer o principal: me manter tranquila.
Quando Nico fez 2 meses ele estava pesando 3200g, diante da balança, eu chorava, essa batalha eu havia perdido. Estava há 12 dias sem evacuar, urina extremamente concentrada. Eu não aguentava mais, estava no meu limite, e juntas (pediatra e eu) optamos por iniciar a relactação, até que o peso voltasse ao menos para o percentil 10, que era o de seu nascimento.
Quando saí para comprar a primeira lata de leite em pó eu chorei, me sentia derrotada, incompetente. Sentia ódio de mim e de todas as mulheres. Me tranquei em casa pq eu não conseguia ver outra mulher amamentando, eu me sentia horrível. Por que eu não consigo amamentar o meu bebê?
Eu via recém nascido maiores e mais pesados que o meu filho com 2 meses, eu me sentia a pior das mães. E quando eu ouvia que era besteira ficar assim, que a maioria das crianças crescem com leite artificial, que era
frescura, eu me sentia pior ainda. Amamentar pra mim não era uma escolha, era um princípio, era a ordem natural das coisas, e eu sentia meu corpo falho.
E eu comecei a relactar

O que é relactação?
Relactação é uma técnica de amamentação por meio de uma sonda (gastrica, ou de aspiração, ideal a de número 4). A criança suga o seio da mãe, e por meio da sonda acoplada ao peito, ela suga também o leite armazenado em um frasco.
A relactação é indicada para mulheres que já estiveram grávidas e por qualquer motivo precisam, ou querem, voltar a produzir leite. portanto, somente relacta a mulher que em algum momento da vida já produziu leite e quer retornar a produção. No entanto, a técnica é utilizada também por mulher que quere ou precisam aumentar a produção, uma vez que o bebê sugando o seio estimula a produção láctea.
Quando o bebê está recebendo leite ordenhado da mãe, mas por algum motivo (UTI) não pode ou não consegue sugar o seio materno se diz translactação, e não relactação, pois a mãe produz leite, e o mesmo está sendo consumido pelo bebê.



Então mudei um pouco minha rotina, agora eu ordenha manualmente antes de dar o peito, colocava o bebê no peito, depois de um tempo no peito eu relactava, e depois eu fazia a ordenha com bomba elétrica. O volume ordenhado passou para 20ml e nunca além disso.
E daí, um mês após, Nico pesava 5400g, ou seja ele ganhou 2200g em um mês, mais de 70g por dia. A pediatra um pouco assustada me perguntou quando de leite eu estava passando pela sonda e eu respondi, 30 ml. E ela com um sorriso respondeu, 30 ml jamais o faria engordar assim, o q o engordou foi você. Uma explosão de felicidade tomou conta de mim, e o sol voltou a brilhar. E começamos o desmame da sonda.
Porém meu mundo caiu novamente, Nico viciou na sonda, ele não aceitava o peito sem ela, chorava, ficava nervoso. Teria a sonda virado uma mamadeira? Mas fui devagar, e consegui tirar aos poucos, e o resultado após um mês fazendo o desmame foi terrivel, Nico perdeu peso! Voltei a relactar, voltou a ganhar peso. Tirava a sonda perdia peso. E fui nesse ciclo 5 vezes, até que eu tomei a decisão por manter a sonda de vez, eu não queria oferecer leite na mamadeira. A Amamentação está além da oferta de leite, é carinho, calor, afeto, vínculo e eu lutaria por ela até o fim!

A relactação deve ter um começo e um fim. O ideal é que quando se indica a realactação para uma mulher é que já se tenha em mente o processo de desmame diante de sua indicação.
Quando a indicação é para aumentar o volume de leite, há a necessidade de se esgotar outros meios. Em primeiro lugar, felizmente, a grande maioria das mulheres que acham q estão com pouco leite, na verdade não estão, e um meio de se averiguar isso é a frequência de micções, e sinais de bom desenvolvimento, o peso não deve estar no alto do pedestal. Se de fato estiver diante de um caso que necessita de cuidados deve-se observar as possiveis causas e tentar corrigi-las, e se não resolvido o caso aí sim indicar a relactação.
Apesar de ser um processo que auxilia a amamentação a relactação tem seus poréns, o fluxo de leite é maior o que pode fazer com que o bebê se acostume com essa facilidade! A longo prazo a relactação pode causar hipogalactia e desmame, daí  a necessidade de ser um procedimento provisório.
Algumas mulheres não conseguem desvincular a sonda da doença, aquele estigma de que o bebê que se alimenta por sonda é doente, essa mulher precisa de muito apoio.
Apoio, é o que de fato a mulher com dificuldades em amamentar mais precisa. E por apoio entenda acolhimento. Teve dias que a única coisa que eu queria era um abraço, só isso. Estava cansada de pedir ajuda e muita gente em cima de seus egos deixavam de ver que o que eu mais precisava era de um ombro.


E assim foram 13 meses de relactação, isso mesmo 13 meses. 15 meses me perguntando, procurando respostas do que aconteceu, o que foi errado, porém nenhuma resposta me convencia.
Até que eu tirei a vítima de mim e passei a olhar a verdade, a minha amamentação havia saído do campo emocional e flutuado para o mental. Como uma mulher consegue amamentar pensando o tempo todo em quantos ml o bebê já ingeriu, se estava mamando o leite posterior (rico em gorduras), se estava DESNUTRIDO.
Fato, Nico tem o freio sublingual curto o que acredito que dificultou a mamada, mas o que mais pesou de fato foi o DESNUTRIDO, essa palavra sondava os meus piores pesadelos, pois ela me deu o selo de incompetente, eu não vi que meu filho passava fome? Eu não vi que meu flho estava desnutrido? Precisei de vários meses pra me recompor.
E aí vai meu apelo aos profissionais da saúde: Por favor, caros colegas. Não importa que é a última paciente do seu dia estressante, você pode ferir os sentimentos dela e prejudicar toda uma história. Devemos fazer nosso trabalho com amor e ele deve ser baseado em informações corretas. Se nada tivermos de bom para falar, que fiquemos calados. Jamais podemos destruir o sonho de alguém, mesmo que não o conheçamos.
Estudar e atualizar, sempre!

Quando me dei conta que eu havia perdido a confiança em meu corpo, a confiança em mim, já havia passado 15 meses de amamentação. Quando me dei conta de que a viciada na sonda era EU, eu consegui ver o que estava diante de mim o tempo todo, a mãe estava ali.
Peguei meu filho no colo, joguei as sondas fora, e o amamentei com o coração. Não queria saber quantos ml de leite haviam ali, eu só queria sentir seu corpo junto do meu, seus olhos no meu, seu dedo dentro do meu nariz, aí eu comecei a amamentar de verdade, a amamentar instintivamente, sem explicação, sem nomes, sem adjetivos, eu me NUTRI.  E estamos hoje há 3 meses sem relactar, meu seios estão mais pesados e eu sinto que essa batalha eu venci. Sou brasileira não desisto nunca, e valeu  a pena?. Como valeu a pena!
Nico com 18 meses.