sábado, 7 de setembro de 2013

A postura de chefe na criação dos filhos




Esses dias passando por uma grande de livraria me deparei com diversos livros que prometiam noites maravilhosas de sono, filhos bem educados, crianças que não fazem birras e mais uma enorme quantidade de promessas que deixam de lado toda a fisiologia do desenvolvimento normal e saudável de toda criança.
Voltei para a casa muito, muito pensativa com essas questões, com essas respostas milagrosas e a única coisa que nao sai de minha cabeça: estamos em busca do bebê ideal?

Atualmente eu faço parte de aproximadamente 40 grupos de discussao sobre maternidade nas redes sociais, grupos de todos os tipos, que discutem amenidades maternas, ecléticos, que fazem meus olhos arderem, que discutem valores, métodos, especificos, fechados, abertos, gerais, etc. Alguns participo ativamente, outros não, alguns leio bastante, alguns sempre me excluo e sempre me incluem, alguns aprendo muito e etc. E em todos os grupos de mãe o assunto birra, falta de limites, palmadas, etc, vai surgir em algum momento, assim como essas afirmativas, por sinal muito defendidas pro profissionais e opinólogos de plantão: 

" Diga NÃO bem firme e séria quando seu bebê estiver fazendo algo que não pode"

" Mostre quem manda na casa"

" A criança TEM que respeitar a hierarquia"

" As vezes falar somente não adianta, então vale umas palmadas. Mas espancar não"

Crítica como sempre fui e sou, sempre paro para pensar nisso tudo. Durante muito tempo eu acreditei nessas afirmativas, durante outros tempos eu me incomodei com isso, e hoje em outros tempos paro para refletir.
E a pergunta vem à ponta da lingua: Estamos falando NÃO demais para nossos filhos? Estamos falando NÃO demais para a vida?
O não funciona muito pouco diante das crianças e é pouco eficaz, mas antes que digam que estou tentando impor a verdadeira teoria do caos, vou abordar um pouco as questões baseadas na administração.

Eu comecei a estudar administração desde os tempos do ensino médio nas aulas de geografia e história, e mais tarde tive que aprofundar os estudos na faculdade, porém só fui dar o devido valor a estas teorias quando me vi perdida e enlouquecida no ambiente de trabalho, onde as relações pessoais e profissionais eram decadentes, e a estrutura organizacional totalmente hierarquizada e pouco funcionante. E não preciso mencionar que este ambiente totalmente desorganizado e prejudicial me levou a inúmeras sessões de terapia e a vasta procura por literaturas. 
Trabalhar em hospitais é uma verdadeira prova de vida. Onde as relações tendem a ser hierarquizadas e as teorias de equipe multiprofissional funcionam muito bem no papel.

Quem já teve um CHEFE, no sentido próprio da palavra sabe o quão pode se tornar desafiante sair de casa e ir trabalhar. A figura do chefe é tida como uma figura de autoridade, já a do líder é tida como uma figura de orientação e motivação. 
Nas organizações empresariais o chefe é tido como aquele que usa de autoritarismo, coloca regras, tarefas e imposições, e seus subordinados são obrigados a seguirem suas ordens que nem sempre respeitam as necessidades especificas de cada um, demonstram inflexibilidade e pouca abertura ao dialogo.
Já o líder é tido como um orientador, motivador, que consegue compreender seu ambiente de trabalho e motiva as pessoas a atuarem de forma harmonica. As relaçoes são horizontais e se mostra aberto ao dialogo e sua postura é mais voltada a participação de todos.
A postura de chefia, tem proteção de sua hierarquia, onde pode agir com liberdade a sua própria maneira, não necessitando servir de exemplo, pois a ordem é: "faça o que eu mando". Nessas empresas o ambiente é tomado por descontentamento, desunião, falta de motivação e abandono de cargo, uma vez que poucos conseguem se manter em um ambiente negativo por muito tempo o que aumenta a rotatividade e diminui o bom funcionamento da empresa.
A postura de liderança já se reflete no exemplo do líder, o que demanda tempo e paciencia e habilidades pessoais para contornar situações desagradaveis e desafiadoras do ambiente de trabalho. Não conta com a proteção hierarquica, pois normalmente a relação horizontal é mais valorizada, portanto está mais exposto a críticas e também a elogios e a soluções compartilhadas de problemas. O ambiente de trabalho costuma ser mais harmonico, motivador e menos estressante, e o índice de absenteismo é menor.

Mas o que tem haver as relações do ambiente de trabalho com a criança de filhos?? Tem tudo haver!
Se o funcionário motivado trabalha melhor, uma criança motivada também ira se desenvolver melhor.
É muito mais fácil sentar na cadeira e dar ordens, ser impaciente por estar preocupado com os ganhos, despesas e trabalho a ser feito e todas as preocupaçoes de um chefe, sem levar em conta os meios, só pensando no fim, e sem ter uma visão muito clara do futuro, onde a preocupação maior é a imediata, é a tarefa. Assumir a posição de liderança exige tempo, paciência, perseverança e jogo de cintura. Para resolver problemas muitas vezes necessitará um grande mergulho em si mesmo e o reconhecimento de estruturas emocionais dolorosas, como motivar se está desmotivado?

Assim fazemos diariamente com nossos filhos. Temos inúmeros desafios em nosso cotidiano, chegamos em casa cansados pelo trabalho, e o jantar precisa ser feito, a casa precisa de cuidados, e ainda precisamos dar banho, ajudar na liçao de casa, botar para dormir, etc, etc, etc.
Daí acabamos não dando atenção devida, e nossos filhos nos respondem a altura, com impaciencia, com a birra. A birra nada mais do que a demonstração de um descontentamento, que nem sempre é devido a taça de cristal proibida, na grande maioria das vezes é pela atenção não recebida, e a taça de cristal é somente a materialização desse desejo frustrado.
É mais fácil dizer:
- Fulano, NÃO pegue a taça de cristal. Já falei pra vc que não poder mexer aqui.
E a criança responde pegando a taça olhando diretamente nos olhos da mãe como se a desafiasse, ou se coloca no chão em choro sentido.
Não seria melhor dizer:
- Fulano, eu sei que vc quer atenção e nesse momento estou tão cansada e não estou dando o que vc merece. Na sua idade eu também gostava de brincar com coisas que quebram, mas se a taça quebrar onde iremos tomar o suco de laranja gostoso? Mamãe tem que fazer o jantar vc não quer vir brincar na cozinha com os potinhos?
Cadê o NÃO??? Cada vez mais me convenço que falamos NÃO demais, que limitamos demais, que damos atenção de menos e não lideramos nossa casa, nós a chefiamos.
Nossos filhos são criados em um hierarquia verticalizada onde não é permitido questionamentos, onde não é permitido que se expressem, que chorem, onde precisam andar em cascas de ovos, onde devem muito e podem pouco. Queremos filhos educados? Que se sentem na mesa de um restaurante e se comporte? Queremos filhos perfeitos? Mas somos perfeitos? Somos pais perfeitos? 

Precisamos pensar em relações saudaveis e não em quem manda na casa, se oferecermos respeito e amor aos nossos filhos, eles nos retornarão respeito e amor. Colocaremos em nossa casa a harmonia, o dialogo. Precisamos de tempo, precisamos de jogo de cintura e sabedoria. Criar filhos é um grande mergulho interior, precisamos trabalhar sujeiras que teimamos em jogar debaixo do tapete, e isso não é facil, e por vezes é doloroso, porém é necessário.

Espero dizer menos NÃO ao meu filho, e dizer mais SIM à vida. Não preciso ensinar meu filho quem manda na casa, eu preciso amá-lo e motivá-lo a ser uma boa pessoa, e isso só tem um caminho, o exemplo.

Beijo em todos

Thaiane!






5 comentários:

  1. Ola Thaiane!
    Adorei o post.
    Eu tento sempre conversar e perguntar o por que das coisas... assim fica facil mostrar para os filhos porque pode ou nao determinada coisa.
    beijos
    Lele
    #amigacomenta
    www.eueleeascriancas.com.br

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  2. Thai, como sempre arrasando nos post´s.
    Eu tento todos os dias matar meu lado chefe, e te confesso que é muito duro. Tenho lido muito a respeito e o seu post vai de encontro as conclusões que eu cheguei, percebo que todas as vezes que a La tem a atenção desejada ela é outra bb, sem crises de choros, sem birrar. O duro é conseguir dar toda a atenção que ela exige, mas quem disse que seria fácil ser mãe né amiga, obrigada por esse texto lindo, tenho certeza que ela ajudará muitas mães a enxergarem a luz no fim do túnel. bjos

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    1. Ju, muito obrigada, sua visita é sempre muito bem vinda aqui. Se quiser a gente pode conversar mais sobre tudo isso. Eu também me policio sempre, e nem sempre é fácil. E concordo com vc, ser mãe não é facil, mas quem decide ser mães pelas facilidades? Rs. Beijo grande

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  3. abordagem bem interessante. gostei muito. #amigacomenta

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  4. Achei um olhar muito interessante (ainda mais sendo eu psicóloga! haha). Tenho refletido muito sobre como posso incluir mais a ênfase do que pode e é bom ser feito ao invés de toda hora ficar falando do que não pode e não deve acontecer. Acredito que essa sua análise da figura parental como figura de autoridade tal qual praticada nos modelos tradicionais administrativos me fez abrir os olhos para várias coisas. Excelente artigo!

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