domingo, 24 de março de 2013

Amamentação prolongada é bom?

O post é grande, mas vale a pena ler. Especialmente dedicado as mães que como eu sofrem pressão para o desmame, e para as mães que querem saber um pouco mais sobre os beneficios da amamentação prolongada!
 
Quando meu filho era pequenino sempre que eu parava para amamentá-lo alguém vinha até mim com sorrisos, falando dos benefícios da amamentaçao, que o moleque cresce gordo, parrudo, que esse é o melhor alimento, que melhora a imunidade, etc, etc, etc. 
Me lembro o quanto era bom ouvir isso, no entanto o guri foi crescendo, crescendo, crescendo e começou a andar. Aí o papo mudou...
Meu filho tem 22 meses e ainda mama em livre demanda, e sempre que eu paro para amamentá-lo observo olhares tortos, e a famosa pergunta: você vai desmamá-lo quando? Ah, depois de seis meses o leite materno não vale nada! Ele vai ficar dependente de você! Vai virar viado (sim ja ouvi isso). Poderia fazer uma lista gigante de coisas que já ouvi, mas seria muita perda de tempo.

Depois disso comecei a reparar no extremo preconceito e falta de informação que permeia nossa sociedade com relação a amamentação, principalmente após os 6 meses de idade.

Em primeiro lugar a mulher que amamenta seu filho maiorzinho não está sendo fraca e sequer está mimando seu rebento, ela está simplesmente seguindo as orientações da Organização Mundia da Saúde (OMS), a qual diz o seguinte: "O aleitamento materno deve ser mantido até os 2 anos ou MAIS, sendo que deve ser ofertado exclusivamente até os 6 meses, e após deve-se iniciar alimentação complementar".
A amamentação não é o principal alimento a ser ofertado ao bebê somente até os seis meses de vida, ela é o principal alimentado a ser ofertado até 1 ano de vida, a alimentação é complementar a alimentação. Após um ano de vida esse quadro muda, passando a amamentaçao a ser complementar a alimentação, mas de muita importância na vida imunológica da criança. Portanto não precisa se descabelar após os seis meses se o bebê está dificil de aceitar a papa, vá com calma, o seu leite ainda o nutre e é super importante. Fico super chateada quando vejo pediatras pedindo para retirar o LM após os seis meses para não "atrapalhar" a introdução de sólidos. Pior ainda quando fazem isto antes dos 6 meses, o que é bem comum.

Alguns médicos podem pensar que a amamentação vai interferir em relação ao apetite da criança para outros alimentos. Contudo não existem pesquisas indicando que a criança amamentada têm maior tendência a recusar outros alimentos que a criança que já desmamou.

 
Antes do sexto mês de vida a criança não precisa de suco, chá, água, leite, fruta, comida, etc. E que após o sexto mês de vida os alimentos vão começar a ser introduzidos de acordo com a aceitação da criança e o aleitamento materno mantido até os 2 anos ou MAIS!
Como consultora em amamentação reconheço que muitas são as dificuldades de se amamentar até os 2 anos, ainda mais em um país onde não se encontra nenhum estímulo para tal, e onde as questões culturais são extremamente preconceituosas. E também muitas questões individuais estão em jogo. Nós mulheres somos forçadas a voltar para o mercado de trabalho muito cedo, algumas devem retornar ao trabalho antes dos 4 meses, e tenho algumas amigas autonomas que só fizeram uma pausa por poucos dias após o nascimento. As dificuldades são muitas, e infelizmente a falta de apoio também. Vivemos em uma sociedade que cobra demais independente das escolhas!

Mas é importante mesmo amamentar após 1 ano de idade?

Estudiosos demonstraram que o leite materno durante o segundo ano de vida é muito similar ao leite do primeiro ano (Victora, 1984). No segundo ano de vida, 500 ml de leite materno proporciona à criança:

95% do total de vitamina C necessária;
45% do total de vitamina A necessária;
38% do total de proteínas necessárias;
31% de calorias necessárias.

Diante disso eu penso uma coisa, sempre que alguém chega e me fala que o leite materno não tem valor nutricional após 1 ano, o espinafre, a couve, etc deixa de ter valor nutricional quando?? 


Up na imunidade
Além disso, o que eu mais fico admirada com a nossa mãe natureza, é que o fatores imunológicos do leite materno aumentam em concentração, à medida que o bebê cresce e mama menos. Portanto, crianças maiores continuam a receber os benefícios da imunidade (Goldman et al, 1983). Quando nascem os bebês mamam muitas vezes ao dia e recebem um volume de anticorpos no decorrer do dia, conforme crescem vão mamando menos, e o leite vai ficando cada vez mais concentrado para suprir a necessidade de celulas brancas em um menor volume de leite. Lindo não?
E o leite materno continua a evitar doenças e a facilitar a recuperação de outros agravos durante o segundo e o terceito ano de vida, por ser rico em leucócitos (celulas de defesa), imunoglobulinas, fator bifido (auxilia no combate e prevenção de diarréia, muuuito melhor que o activia e o yakult, a diferença é que ninguém faz propaganda dele na TV), lactoferrina. 


A amamentação não é só benéfica ao bebê pequeno, ela continua a reduzir a morbimortalidade infantil, pois dificulta o aparecimente de quadros infecciosos, e isso é mais felicidade no seu lar, dinheiro no bolso pois evitará gastos com médico e remédios, e melhor desenvolvimento infantil.
Estima-se que o aleitamento materno seja capaz de diminuir em até 13% a morte de crianças menores de 5 anos em todo o mundo por causas preveníveis. Nenhuma outra estratégia isolada alcança o impacto que a amamentação tem na redução das mortes de crianças nessa faixa etária.
Segundo a OMS e o Programa das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em torno de seis milhões de vidas de crianças estão sendo salvas no mundo, a cada ano, por causa do aumento das taxas de amamentação exclusiva. Contudo, no Brasil, dados da II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno – realizada nas capitais brasileiras e no Distrito Federal, em 2008 – revela que 41% das crianças menores de seis meses de vida estavam em aleitamento materno exclusivo. As demais tinham experimentado outro alimento já nas primeiras semanas ou meses de vida.



Crianças amamentadas tem menos alergias
Qaunto mais tarde se  introduzir o leite de vaca e outros alimentos alergênicos, menos provavelmente as crianças vão apresentar reações alérgicas (Savilahti, 1987).

Crianças amamentadas são mais espertas
Em um estudo com mais de 1000 crianças com idades entre 8 e 18 anos, os autores Horwood e Fergusson (1998) observaram que  crianças que foram amamentadas têm melhor performance na escola e maiores notas. Concluíram que havia umas tendências pequenas mas consistentes para a duração crescente da amamentação estar associada com um coeficiente intelectual aumentado, e um desempenho aumentado em testes estandardizados. As crianças obtinham avaliações mais elevadas do seu desempenho na sala de aula e melhores notas em exames finais.

Os autores David M. Fergusson e L. Jonh Horwood da Escola de Medicina de Christchurch subscrevem a teoria de que as gorduras insaturadas encontradas no leite humano são importantes para o crescimento do cérebro e do sistema nervoso.


Hum, agora a bomba que explode todos os dias na minha cabeça!
Crianças amamentadas são melhores ajustadas socialmente 
Ferguson observou que existem tendências estatísticamente significantes para que a desordem na conduta diminua com o aumento da duração da amamentação". Seu estudo mostrou uma ligação significantes entre a duração do periodo de amamentação e habilidade social em crianças de 6 a 8 anos.  
Como já discutimos sobre a importância da fase do colo aqui, volto a falar novamente sobre a importância de se respeitar o tempo da criança. Há tempo para tudo, inclusive tempo para ser dependente, tempo para ser criança, e tempo para crescer e se desenvolver. Crianças que podem desfrutar harmoniozamente de seu tempo para crescer se desenvolvem melhor do que aquelas que são forçadas a desenvolverem prematuramente. Criança não é animal de circo, não é objeto de competição,  e muito menos de comparação, sõ pessoas únicas, singulares e precisam de tempo, carinho e dedicação.
Aliás, estudos demonstram que um desmame precoce, forçado pode realmente impedir as necessidades emocionais de dependência no desenvolvimento, retardando assim a independência da criança.
Digo com muito orgulho que amo amamentar meu filhote, tem seus momentos de grandes dificuldade, mas amamenta-lo com ele me contando a história dos 3 porquinhos, não tem preço. Esse momento único ficará pra sempre em minha memória, é tão mágico isso, que me amolece o coração. Coisa que o cansaço não faz.

 Bebês não mamam somente por necessidade alimentar
 Amamentar um bebê maior é uma otima oportunidade para brincadeiras. Além do mais é no seio que eles bucam conforto, descarregam o estresse, se acalentam quando cansados, doentes, com sono, e  com medo. Ou seja amamentação é um porto emocional. Muito mais fácil aprender a conter as emoções negativas com auxilio de um colo quente, para posteriormente quando seguro poder aprender a controlar sozinho, o que irá acontecer por toda a vida. 
Sim há outros métodos de se acalentar um criança, e a amentação não é a única forma de demonstrar amor, exemplo disso são as mães adotivas. Mas o ponto discutido aqui é a importancia da amamentação e todos os preconceitos que permeiam o assunto, uma mãe que amamenta crianças grandinhas são fortemente forçadas a desmamar com todo tipo de argumento, e que sim a amamentação é importante e benéfica, e que auxilia e muito o desenvolvimento infantil, e que acalma, e acalenta, e que está londe, muito londe de trazer maleficios como tantos pregados por aí.

Através da amamentação, a mãe recebe uma resposta da boca do seu filho, das mãos dele, do corpo e dos olhos dele. Isso dá-lhe informação sobre como ele se sente e sobre o que ele está a fazer. Quase todas as mães que amamentam até mais tarde, afirmam que esta intimidade com o bebê é o elemento mais satisfatório da amamentação. Quando a mãe está a ter este tipo de prazer, ele transmite-se, por sua vez, ao seu filho. Os sorrisos dela, as carícias e o relaxamento do seu corpo, tudo isso ajuda a tornar a experiência da amamentação mais agradável para o seu filho, também. 

Somos bombardeados diariamente com descobertas milagrosas que prometem aliviar nossos problemas diarios de nossas vidas corridas e turbulentas, e não é diferente com a amamentação vendo a grande oferta de mamadeiras com bicos de todos os tipos, diversos formatos, com propagandas de serem semelhantes ao seio materno (duvido que alguma mamadeira seja igual ao meu seio, e que ofereça o calor deles e afague meu filho como eles). Isso sem contar na promessa da industria alimenticia, e de pediatras desinformados (prefiro pensar assim) de que algumas formulas são semelhantes, e pasmem, melhores que o LM. Fato, a melhor fórmula do mercado está tão perto de parecer com o leite materno quanto plutão está do sol. E me dói, me dói muito, muito mesmo, quando vejo mulheres acreditarem nisso e desacreditarem de suas capacidades de nutrir seus bebês. Se a industria e os profissionais de saúde tomassem o mesmo tempo, e o ímpeto que eles tem para demonstrar o quanto a fórmula é superior ao LM, e passasem a incentivar as mulheres e propagar conhecimento sobre o assunto, eu tenho certeza de que teriamos um outro padrão de vida, uma outra forma de fazer saúde, e uma outra forma de vivermos em sociedade. 
A industria até tenta compensar o desmame precoce através de vacinas, antibióticos, formulas especiais, e sabonetes bactericidas (oh god), mas jamais suprirá as necessidades psico-emocionais, afetivas e de contato.

E para a mamãe?
Mães que amamentam por mais tempo também são beneficiadas
a) A amamentação prolongada pode diminuir a fertilidade e suprimir a ovulação em algumas mulheres
b) A amamentação reduz o risco de câncer de ovário
c) A amamentação reduz o risco de câncer de útero
d) A amamentação reduz o risco de câncer de câncer de endométrio e) A amamentação protege contra osteoporose. Durante a amamentação a mulher experimenta uma diminuição na densidade óssea. A densidade óssea de uma mãe que está amamentando pode ser reduzida, em geral em 1 a 2%. No entanto, a mãe tem essa densidade de volta e pode até ter um aumento, quando o bebê é desmamado. Isso Não depende de um suplemento adicional na
alimentação da mãe. f) A amamentação reduz o risco de câncer de mama
g) A amamentação tem demonstrado diminuir a necessidade de insulina da mãe diabética

Josimara amamentando pedro com quase 1 aninho


Amamento sim meu filho de 22 meses, e sou mãe, esposa, dona de casa, profissional, lavo fraldas, escritora, blogueira, amante de cinema. Dificil fazer tudo isso?? Muito. Cansativo? Demais. Sofrido? As vezes. Compensador? Absolutamente. Olho sempre em frente, sei que as dores, as dificuldades serão esquecidas e que o que ficará em minha memória, que me fará sentar com lágrimas nos olhos no futuro é a certeza de que valeu a pena, as lembranças daquele dedo miúdo percorrendo meu nariz, meus lábios. Da sensaçao quente de ter um pequena boca se alimentando do meu corpo, do seu sorriso de satisfação. E do orgulho da luta que não foi em vão!

Minha intenção com esse post é informar. Vejo muitas mães sofrerem com a pressão para o desmame, e que muitas o fazem sem querer, por simplesmente não terem apoio e informação. Informação é a chave para a tomada de decisões saudaveis. Não é uma crítica as mães que desmamaram cedo, longe disso, cada um sabe a dor e o doce de se viver!

Grande beijo.
Thaiane!



Referências
FERGUSON,D.M. et al. Breastfeeding and subsequent social adjustment in six- to eight- year- old children. J Child Psychiatr Allied Discip 1987; 28: 378-86.
HORWOOD LJ and FERGUSSON.Brearstfeeding and later cognitive and academic outcomes, PEDIATRICS Vol. 101 nº1 January 1998, p.01-07.
VICTORA, C. G. Et al. Is prolonged breastefinding associated with malnutrition? Am J Clin Nutr 1984; 39: 307- 14.   

Para saber mais http://www.libertas.com.br

terça-feira, 12 de março de 2013

Slingada Ribeirão Preto

Eu me emociono de ver a força que temos quando nos unimos! E me emociono mais ainda quando vejo as mulheres pegando seus filhos nos braços e indo para a rua lutar por uma maternidade mais consciente!
Sábado dia 09/12/2013 o Mamãe Sunny em parceria com o maior grupo de mães daqui de Ribeirão Preto o Gravidinhas & Mãezinhas, criado pela lindona Flácia Maciel Aguiar, foi para a frente da Esplanada do Theatro Pedro II comemorar o Dian Internacional da Mulher. Foi lindo ver.

Armamos uma barraca onde distribuimos frutas e água aos passantes.
Também distribuimos panfletos falando sobre o grupo G&M, uso do sling, e por uma lei que dê o direito a TODAS as mulheres a licença maternidade de no mínimo 6 meses!
Nossa luta é por um mundo melhor, onde as pessoas saibam amar em sua forma mais pura desde seu nascimento, e acreditamos que só conseguiremos isso quando passar a criar nossos filhos com mais proximidade, sem amarras sociais e culturas, sem medos, com afeto, com vínculo e com liberdade!.


A slingada foi muito linda. Fizemos uma roda com as mães com seus bebês no colo ou no sling e cantamos juntas a música Reconhecimento-Isadora Canto! Muito emocionante! Pra mim, essa musica tem um valor imenso, pois ela tocou momentos antes do meu príncipe nascer!
A Slingada foi demais e espero que possamos fazer outras, muitas outras! Deixo aqui as fotos clicadas pela Alexandra Yamakami!

Muito, mas muito orgulhosa por fazer parte disso tudo, por ter um dedinho mesmo que mínimo na vida de tantas mães, e na vida de tantos bebês. Isso sem dúvida me faz acordar todos os dias muito mais feliz!